O sagrado e o profano em Machado de Assis

O diálogo entre Literatura e Teologia sempre se constitui um campo de discussões, reflexões e, até mesmo, distanciamentos.Ambas, Literatura e questões teológicas,dizem respeito à compreensão do ser humano, da vida e do mundo. O que distingue a abordagem teológica da obra literária é o método que os dois campos do conhecimento empregam. A Teologia tem a fé como procedimento originário e reflete racionalmente sobre Deus e tudo o que mais é visto a partir da fé. A Literatura, por sua vez, opera dentro de um procedimento artístico. Ela é desinteressada e se faz presente a partir da imaginação do artista, a qual atua na sensibilidade do indivíduo e não em sua racionalidade. O interesse do presente curso é abordar quatro contos e um capítulo de um dos romances de Machado de Assis: Adão e Eva; A Igreja do Diabo; Entre Santos; Dom Casmurro (capítulo XX). O objetivo é mostrar, que embora a Literatura seja obra de imaginação e a Teologia, se baseie em uma racionalidade científica, ambas se debruçam sobre a condição humana e são produzidas pelo intelecto humano. Na tentativa de se aproximar a Literatura da Teologia, geralmente costuma-se afirmar que é fácil perceber temas teológicos e religiosos que possam ser de interesse da literatura. Neste caso, o teológico é explicitamente apresentado pela Literatura. Confrontando essa abordagem com relação aos textos aqui estudados, há a presença de temas teológicos e religiosos, mesmo que sirvam de mote para o escritor carioca criticar ou ironizar. Em Machado de Assis, não vemos elementos de teologia que ele tenha trabalhado de forma teológica. Não se percebe um querer teológico no autor, que não deseja catequizar seu leitor, mas fazê-lo questionar a condição humana em seus aspectos menos atraentes. Para o curso, propomos quatro encontros em que serão lidase discutidas as possibilidades de se proceder a uma reflexão teológica através da Literatura, sem pretensões proselitistasou de induzir o leitor a uma confessionalidade.Isso se dá pelo fato de Machado de Assis dar vazão à sua veia humorística e dessacralizante.